01 fevereiro, 2011

"A Árvore"

The Tree, de Julie Bertucelli
França / Austrália / Alemanha / Itália, 2010



por Livia Renó

A Árvore é o segundo longa metragem da francesa Julie Bertucelli. Uma adaptação do livro Our Father Who Art in the Tree, da escritora australiana Judy Pascoe. Seu primeiro como diretora foi Quando Otar Partiu. Julie também fez A Liberdade é Azul, filme no qual foi assistente de Krzysztof Kieślowsk.

Dawn (Charlotte Gainsbourg) e Peter O’neil (Aden Young) vivem com suas quatro crianças numa casa isolada em uma cidadezinha no interior da Austrália. Peter sofre um enfarto e morre. Simone (Morgana Davies), em um processo de sublimação da dor, descobre que o espírito de seu pai entrou na Figueira gigante do quintal da casa, e então se comunica com ela. As raízes da Figueira não param de crescer, e com a seca australiana, começam a subir e estrangular os encanamentos e as construções.

A Árvore tem uma abordagem particular da dor na perda, do espanto pela morte e da acomodação da vida consequente. Uma trama delicada, contada em vários níveis de profundidade, onde a narrativa não está entregue, e se desvela através dos personagens bem construídos em suas experiências. Sobretudo no processo de antropomorfização da árvore. E na relação com ela, de cada integrante da família em luto.

O filme destaca excelentes atuações. Charlotte Gainsbourg, como a viúva Dawn, está ótima em seus contrastes. Morgana Davies, que interpreta a menina de 8 anos, é expressiva, potente e determinada, contrapondo os sentimentos mais delicados e errantes de sua mãe.

A Árvore é uma escolha estética feminina e intimista. A fotografia de Nigel Bluck é sofisticada e bela. Uma história simples que não fala do futuro da linguagem, mas que trata de algo que está muito próximo, na falta indescritível. E ainda tem a linda canção To Build a Home do Cinematic Orchestra como tema.